O sétimo e último dia de mostras competitivas do Bonito Cine Sur — Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito (MS) uniu dois filmes centrados na sobrevivência de pessoas pobres face à seca e à falta de oportunidades em seus países.
No caso do brasileiro Mais Pesado É o Céu, dois antigos habitantes de Jaguaribara (CE) retornam à velha cidade inundada na esperança de encontrar algum resquício da juventude. Não recebem acolhimento, mas acabam descobrindo um bebê abandonado num barco, que ficará sob os cuidados de Teresa (Ana Luiza Rios) e Antônio (Matheus Nachtergaele).
Assim, estes desconhecidos formam uma família improvisada, vivendo em casas abandonadas e fazendo o possível para resistir ao cenário inóspito do sertão. Para complicar a tarefa, há um assassino de mulheres na região, que teima em cruzar o caminho de Teresa. O diretor Petrus Cariry apresenta uma bela obra, repleta de humanidade e carinho pelos personagens, algo que jamais se transforma em condescendência. Leia a nossa crítica.
Um caminho semelhante é adotado pelo chileno Estrelas do Deserto, curta-metragem que enxerga a seca nos desertos locais pela perspectiva das crianças. Um grupo de meninos e meninas formam uma equipe de futebol que se esvazia, dia após dia, quando as famílias dos colegas decidem abandonar o local em decorrência das condições climáticas.
Enquanto os pequenos veem apenas a diminuição do time, o filme demonstra o desaparecimento de cidades e as transformações da geografia humana devido ao descaso das autoridades em combater fenômenos controláveis. A cineasta Katherina Harder dirige muito bem os atores mirins, e evita transformar o olhar lúdico da infância numa forma de atenuação do problema.
De modo geral, a programação do Bonito Cine Sur apenas cresceu dia após dia, guardando para as sessões finais seus principais filmes.