Dreams (Sex Love) (2025)

Uma garota apaixonada

título original (ano)
Drømmer (2025)
país
Noruega
gênero
Drama, Romance
duração
110 minutos
direção
Dag Johan Haugerud
elenco
Ella Øverbye, Selome Emnetu, Ane Dahl Torp, Anne Marit Jacobsen
visto em
75º Festival de Berlim (2025)

Os primeiros quinze ou vinte minutos deste drama oferecem uma experiência clássica de romance adolescente. A estudante Johanne (Ella Øverbye) se apaixona pela professora de francês, e dedica todas as horas do seu dia a louvar a mulher mais velha. Ela imagina a sensação de tocar a sua pele, de beijá-la, de estar perto dela. Inventa desculpas para iniciar conversas, e se dedica aos temas de predileção da outra (a língua francesa, o tricô). Tem dificuldades de dormir, de se concentrar e, sobretudo, de guardar segredo quanto aos seus sentimentos.

Nesta parte inicial, o diretor Dag Johan Haugerud apoia-se excessivamente na narração em off. Na condição de explicadora, a garota fala sem parar, detalhando cada pensamento, e também alguns atos futuros — sabemos que ela escreverá um livro a respeito deste episódio. Para uma obra com tamanho apreço pela literatura, surpreende que o longa-metragem ignore o ato de escrever, apresentando livros subitamente prontos. De qualquer modo, o terço inicial de Dreams (Sex Love) abraça uma verborragia quase asfixiante, além de bastante convencional.

A estética acompanha o imaginário juvenil dos primeiros amores. Assim que o afeto se instaura, as cores quentes invadem a estética e aquecem os personagens. A professora Johanna (Selome Emnetu) é vista sob a luz generosa do sol, em câmera lenta pela perspectiva idealizada da jovem heroína. O apartamento da educadora é todo coberto de lã — material pendurado nas quatro paredes do cômodo para despertar a impressão de casulo acolhedor. A trilha sonora, sem surpresa, investe em melodias doces, ternas, de maravilhamento. Busca-se uma estética desprovida de atritos e ambiguidade. Trata-se de um amor puro.

Na parte inicial, o diretor apoia-se excessivamente na narração em off. O longa-metragem melhora bastante quando investe no humor das situações.

Felizmente, a narrativa melhora bastante quando o livro escrito pela estudante é entregue à avó progressista (ela mesma, uma poetisa com obras publicadas) e, em seguida, à mãe. Entram em cena então os olhares de terceiros, críticos e desinteressados, a respeito da desilusão amorosa. As mulheres alternam-se na interpretação dos fatos: terá sido abuso de Johanne? Cabem medidas jurídicas? Pode-se falar num trauma violento? Ou seria uma bela vivência sentimental? A descrição literária corresponderia exatamente aos fatos? O ato de imortalizá-las na escrita ajudaria a superar o sentimento afetivo ou, pelo contrário, a preservá-lo sempre consigo?

Aos poucos, Dreams (Sex Love) introduz algumas metáforas para a impossibilidade da concretização do relacionamento. O principal deles consiste numa longa escada, conectando as partes alta e baixa de um bairro em Oslo. Quando filmadas sob a neblina, as escadarias de fato possuem um caráter imponente, mesmo mitológico. Entretanto, o símbolo se repete, desgasta, até uma fraquíssima cena musical envolvendo a avó, cercada por dançarinos constrangidos que não se privam de observar para a câmera durante a coreografia. Surpreende que instantes desajeitados como estes tenham sobrevivido ao processo de montagem.

O longa-metragem melhora bastante quando investe no humor das situações. Ao perceber que a comicidade pode provocar certo respiro em relação aos tabus sociais — algo que Sex, filme anterior da trilogia, explorava de maneira frequente e mais eficaz —, o projeto ganha suas melhores tiradas, em especial, envolvendo a mãe e a avó. Numa floresta, ambas conversam sobre o reacionarismo de Flashdance, e os motivos para ser considerado, pela mulher mais velha, como influência negativa sobre a filha. Dentro do cinema, a plateia gargalhava com a análise ideológica do musical. Na verdade, é curiosa a sensação de uma obra que engrandece cada vez que se afasta de sua personagem central.

A narrativa também chama atenção por abordar o interesse afetivo de uma garota por outra mulher, sem que a homossexualidade se torne motor de conflito, ou sequer seja mencionada na trama. Termos como lesbianismo tampouco aparecem nos diálogos. Os adultos estão mais preocupados com a diferença de idade, e o possível abuso de poder da professora neste caso, do que com questões de gênero e orientação sexual. O mais próximo que o texto chega de verbalizar o tópico surge de uma análise da mãe, em relação ao livro, que considera um belo tratado sobre o “despertar queer”. 

No final, o roteiro efetua inúmeros saltos temporais, correndo para informar o que aconteceu a todos os personagens citados num futuro próximo. Dag Johan Haugerud se sente na obrigação de encontrar uma conclusão didática a cada conflito (o livro, o amor, a reação aos pais), inclusive definindo a sexualidade da filha e da professora — algo que dispensava de maneira bastante orgânica até então. Sob pretexto de encerrar este pequeno conto na estrutura mais clássica-narrativa possível, Dreams se endireita, no sentido menos estimulante do termo. Parece dar alguns passos atrás em relação à fluidez que se construía até então. Mesmo assim, oferece uma rara iniciativa tão popular quanto propícia ao circuito de arte. Não deve ter dificuldades para circular por outros festivais de cinema após Berlim, inclusive conquistando o circuito comercial em outros países. 

Dreams (Sex Love) (2025)
6
Nota 6/10

Zeen is a next generation WordPress theme. It’s powerful, beautifully designed and comes with everything you need to engage your visitors and increase conversions.