Lola e Seus Irmãos (2018)

Gente que erra

título original (ano)
Lola et Ses Frères (2018)
país
França
gênero
Comédia, Drama
duração
105 minutos
direção
Jean-Paul Rouve
elenco
Ludivine Sagnier, José Garcia, Jean-Paul Rouve, Ramzy Bedia, Pauline Clément
Visto em
Cinemas

Lola e seus Irmãos pertence a um tipo muito peculiar de comédia. Trata-se de um filme onde as falhas dos protagonistas não servem para impulsioná-los adiante na trama. Por isso, o universo se torna inconsequente, levíssimo: alguém comete uma falta grave, sente-se mal por isso, pede desculpas uma vez, duas vezes, e a questão se arranjou. No dia seguinte, estará cometendo os mesmo erros de antes.

O diretor Jean-Paul Rouve possui evidente carinho pelos três adultos incompletos e parcialmente infelizes. Por isso, aposta numa abordagem condescendente: embora passe a narrativa inteira rindo dos inconvenientes gerados pela trinca, decide desculpá-los imediatamente. O autor vai além, sugerindo que sejam ainda mais cativantes porque falhos, imaturos, solitários. Somos convidados a rir deles e com eles, em simultâneo.

Este estilo de pequenezas produz um roteiro situado em quiproquós cotidianos, atos falhos, datas de aniversário esquecidas. O projeto se mantém linear, evitando qualquer cena mais forte em termos estéticos ou narrativos. Pelo contrário, opta-se pela segurança das repetições, em forma de gag: cada vez que os irmãos retornam ao cemitério, para visitar o túmulo familiar, brigam por um novo motivo. Cada vez que o proprietário de uma ótica, Benoît (Rouve) experimenta um aparelho recém-comprado, o objeto apresenta defeitos. 

Pela sucessão de adversidades, elabora-se um cenário crônico – uma espécie de cidade dos fracassados e infelizes. A paleta de cores vai do bege ao cinza, evitando qualquer tom mais forte; a direção de fotografia permite que algumas luzes estourem, dando a aparência de improviso (ou convertendo os erros dos heróis em escolhas assumidas); a imagem treme bastante, aproximando-se da paródia do cinema independente, com a câmera na mão.

Talvez o único elemento capaz de chamar atenção a si próprio provenha da decisão em filmar a demolição de um prédio, ao vivo. A sequência não aparenta recorrer a efeitos visuais rebuscados, apenas captar um acontecimento que se produzia na região. Esta é a única cena explosiva, literal e figurativamente, num percurso repleto de atividades menos empolgantes por parte dos personagens. A demolição ressalta o abismo existente entre o cinema de sensações fortes e aquele, praticado pelo diretor, afeito aos dias comuns.

Os encontros e brigas são calibrados para despertar pequenos sorrisos e uma leve preocupação, sem mais. Sabemos que tudo se resolverá, eventualmente, com um misto de risos e lágrimas.

Enquanto isso, a comédia nasce de contextos fortemente ritualizados, ou seja, quando se espera um código de conduta muito preciso. Casamentos, jantares com parentes e entrevistas de emprego representam as situações perfeitas para que Rouve coloque seus personagens agindo de maneira equivocada uma vez mais. Pierre (José Garcia) erra o nome da noiva durante o brinde, Benoît reage de maneira negativa ao anúncio da gravidez da esposa. Há quase um prazer sádico em lançá-los às humilhações, rupturas e rejeições sucessivas vezes, porém o criador estima que o trio seria ainda mais digno de empatia devido ao sofrimento.

O elenco se entrega à proposta com gosto. A excelente Ludivine Sagnier desempenha com facilidade o papel da advogada um pouco ingênua e sonhadora, dominando diálogos na fronteira entre o dramático e o humorístico. José Garcia abraça o sujeito temperamental e irresponsável, por quem o roteiro estima que todas as mulheres se apaixonariam de imediato. Já Rouve aposta na aparência do palhaço triste, antissocial, incapaz de perceber as vontades da esposa e os erros evidentes de um aparelho ótico.

Nenhum deles oferece composições brilhantes, até porque o longa-metragem é avesso ao brilho, ao destaque, à catarse. Os encontros e brigas são calibrados para despertarem pequenos sorrisos e uma leve preocupação, sem mais. Sabemos que tudo se resolverá, eventualmente, com um misto de risos e lágrimas. Nenhum personagem corre real risco de uma catástrofe definitiva, e nenhum deles se transforma entre as cenas inicial e final. 

Lola e seus Irmãos acaba infantilizando estes adultos, no sentido de acreditar que os erros mais aceitáveis são aqueles cometidos na inocência, pela espontaneidade, sem pensar de fato — como fazem os pequenos. O afeto se revela paternalista: Rouve e o co-roteirista David Foenkinos elaboram estes tipos tragicômicos apenas para abraçá-los, protegê-los de represálias e garantir que nenhuma emoção forte os acometa. Nem pulsão de vida, nem pulsão de morte: os irmãos seguem adiante por inércia.

O resultado será um filme pequeno, porém ciente de seu porte, e avesso a qualquer ambição mais potente de representação e linguagem cinematográfica. A narrativa se desenvolve de modo protocolar, com os três irmãos vistos em paralelo, entre disputas e reconciliações momentâneas. Em muitos casos, o humor desperta a estranha impressão de lançar uma punchline sem a construção prévia da piada, sugerindo possíveis guinadas que jamais se concretizam. O roteiro lembra o road movie no sentido exclusivo de priorizar a jornada, o processo, ignorando o destino onde estas pessoas chegarão. 

É improvável que o projeto deixe uma impressão forte na mente dos espectadores, ou marque a carreira de seus criadores e atores. No entanto, também há espaço para iniciativas singelas como esta, que provoca emoções moderadas a partir de imagens seguras e construções conhecidas (os planos e contraplanos, a alternância rígida entre comédia e drama, o final feliz). A originalidade constitui apenas um dos critérios de percepção de qualidade no cinema.

Lola e Seus Irmãos (2018)
6
Nota 6/10

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