O Ensino Médio está quase acabando para um grupo de adolescentes num internato da comuna de Die. Eles começam a pensar nos estudos universitários, no retorno à cidade dos pais, no fato que dificilmente se encontrarão de novo. Neste documentário, o diretor Guillaume Brac se concentra num período de transformações para um coletivo de jovens, buscando traçar a radiografia da juventude francesa contemporânea. Em que pensam? Como se comunicam? Como enxergam a educação, o trabalho, a política?
Além disso, eles fazem parte de um projeto particularmente progressista de educação. É evidente que o autor se atraiu pela estrutura particular da Cité Escolaire du Diois, instituição de ensino que permite o contato muito próximo com os professores. Os alunos têm aulas de expressão corporal, muitas disciplinas em filosofia, e participam de atividades ecológicas. Meninos dançam com meninos, meninas fazem carinho nas amigas. Eles usam dreadlocks no cabelo e participam de manifestações contra empresas poluidoras. O filme se volta, portanto, à formação de novas vozes de esquerda.
O posicionamento da câmera — fator determinante em qualquer documentário — impressiona bastante em É Apenas um Adeus. O dispositivo se encontra incrivelmente próximo dos garotos e garotas. Ele está no interior dos dormitórios enquanto conversam trivialidades, no fundo do corredor quando brincam com os colchões, e esperando no escuro, antes de acordarem, cedo pela manhã. No entanto, ninguém parece se incomodar com a equipe logo ao lado: as conversas se desenvolvem com a naturalidade de quem ignora a presença do maquinário. É raríssimo e precioso desenvolver tamanha intimidade com os personagens.
Guillaume Brac defende um protagonismo da coletividade, algo pertinente à discussão a respeito da renovação dos ideais progressistas numa França ameaçada pelo fantasma da extrema-direita.
Brac efetua tais escolhas a partir de uma estética aperfeiçoada por mestres como Frederick Wiseman. Ele determina um espaço onde deseja olhar, posiciona-se em plano fixo e espera que as situações se produzam à sua frente. No caso das conversas entre duas ou três meninas, foca-se no rosto de uma, deixando as falas das demais em espaço extra-plano. O projeto desperta a impressão de ter filmado uma imensidade de interações, para então filtrar o que realmente lhe interessava na montagem. Ao invés de construir um mundo para a câmera, demonstra a paciência de apreender aquilo que o mundo possa lhe oferecer. Existe evidente parcela de acaso, e mínima intervenção no meio.
Além disso, os trabalhos de som direto e edição de som são magníficos. Ainda que os meninos e meninas riem, briguem e falem todos ao mesmo tempo, as falas estão incrivelmente claras e limpas, com notável hierarquia entre diálogos e ruídos ambientes. (A única trilha sonora aparece na cena final, para costurar a narrativa). Este não aparenta ser um documentário onde haveria espaço para se colocar um boom, de modo que a perfeita inteligibilidade das falas e interações soa tão rara quanto fundamental a um projeto voltado às falas e diálogos.
Isso porque Brac se deleita com as discussões deste coletivo. Ele elege quatro garotas — Aurore, Nours, Jeanne e Diane — enquanto fios condutores de segmentos, embora suas histórias se cruzem com as outras. Elas narram a relação com os pais, a criação pouco convencional por adultos hippies ou a relação com patriarcas ausentes. Efetuam uma espécie de autoleitura crítica, tentando compreender exatamente por que chegaram neste ponto em suas vidas, por que efetuam tal escolha de carreira, ou como se sentem em relação aos amigos. Demonstram inteligência, senso crítico e eloquência excepcionais, permitindo ao diretor aprofundar seu panorama da juventude por meio de histórias individuais.
Graças à riqueza deste material, pode dispensar elementos explicativos: não há letreiros, datas, nem entrevistas para as câmeras. A única narração em off vem das próprias garotas, refletindo em tom íntimo e confessional, com o som sobreposto às cenas cotidianas. Brac aposta tanto na reflexão das personagens quanto na capacidade do espectador em abstrair estes casos particulares para articular um mosaico amplo. Na contramão de inúmeros projetos didáticos, que começam e terminam com explicações de suas intenções, deixa que os tópicos reverberem livremente no público — algo que somente os documentários mais maduros conseguem fazer.
Em paralelo, defende um protagonismo da coletividade, algo pertinente à discussão a respeito da renovação dos ideais progressistas numa França ameaçada pelo fantasma da extrema-direita. As cenas são marcadas por quatro, cinco, seis jovens ao mesmo tempo, lado a lado. As quatro protagonistas nunca se isolam dos demais, nem por escolha própria, nem por recursos de montagem. O filme prefere enxergá-las sempre em relação aos colegas, imersas num ambiente familiar, escolar e de amigos. Pensa-se a coletividade enquanto elemento indissociável.
Até por isso, dispensa hierarquias ou distinções. Brac nunca visa saber quais são os bons e maus alunos, que tem chances de entrar na prestigiosa Science Po e quais estudarão em universidades menores. Jamais justifica as decisões de seus personagens, em chave determinista, nem julga moralmente sua percepção de mundo: antes de atribuir um discurso aos protagonistas, o diretor se mostra disposto a observá-los e escutá-los. O filme procura aprender com eles, absorver qualquer coisa que tenham a oferecer — caso em que os verdadeiros professores e elementos de transmissão são os próprios meninos e meninas.
É Apenas um Adeus se encerra de maneira concisa, igualmente como Wiseman fazia em todas as suas obras — com o fim do dia, a despedida na estação de trem, os ambientes vazios. Trata-se de uma obra sucinta, de curta duração (64 minutos), avessa à tentação de estabelecer um pomposo tratado sociológico. Afinal, não se trata de um núcleo específico, mas de um grupo observado enquanto exemplo de uma geração mais ampla. O cineasta pretende que este seja o início de uma conversa, uma porta de entrada, ao invés de uma “obra definitiva” a respeito da educação e da passagem à fase adulta. Mais do que uma humildade, demonstra consciência do alcance de sua iniciativa e do escopo da produção.