Growing Down (2025)

Espiral de violência

título original (ano)
Minden Rendben (2025)
país
Hungria
gênero
Drama, Suspense
duração
85 minutos
direção
Bálint Dániel Sós
elenco
Szabolcs Hajdu, Ágoston Sáfrány, Anna Hay, Zonga Jakab-Aponyi, Zsófia Szamosi
visto em
75º Festival de Berlim (2025)

Entre todas as produções ditas em preto e branco, Growing Down se insere em um dos grupos mais curiosos, pelo fato de não conter nenhuma imagem propriamente preta, e muito menos alguma imagem branca. A direção de fotografia é o elemento que mais chama atenção neste longa-metragem, onde as cenas variam entre o cinza-claro e o cinza-escuro, mas jamais atingem extremos. 

O borrão cinza, quase impressionista, parece retirar igualmente as peculiaridades de tempo e espaço: o espectador pode ter dificuldade de situar os conflitos numa cidade ou num ano preciso. O diretor húngaro Bálint Dániel Sós busca uma espécie de fábula universal a respeito das relações familiares e de poder — algo que poderia funcionar, com mínimas variações, em qualquer local do globo.

No caso, Sándor (Szabolcs Hajdu) é um homem viúvo com dois filhos. Ele começa a se relacionar com Klára (Anna Hay), que também tem uma filha pequena. Durante uma festa, o filho de Sándor, Dénes (Ágoston Sáfrány), em uma de suas explosões de violência, empurra a garotinha numa piscina vazia. A única testemunha do ocorrido: o próprio pai do menino. O corpo resta inerte, coberto de sangue. Sándor toma a decisão imediata de salvar o filho, e ocultar sua responsabilidade no caso.

Enquanto permanece no domínio psicológico, Growing Down atinge seus melhores momentos. No entanto, na segunda metade, o longa-metragem investe numa tese problemática da imagem enquanto prova do real.

Logo, o drama começa a ganhar ares de suspense psicológico e, mais tarde, de suspense policial. O ponto de vista alterna com rapidez entre o pai preocupado (sentindo-se culpado por suas mentiras) e o menino, insistindo ora que não a empurrou, ora que deveria confessar o crime e ser preso de uma vez por todas. (A trama revela que na Hungria, aos 12 anos, o menino poderia ser enviado a uma detenção para menores). 

Talvez O Vídeo de Benny, de Michael Haneke, venha à mente. Entretanto, o projeto húngaro nunca explora a perversão das relações humanas, apenas a tendência protetora de um pai que coloca o futuro de seu filho acima do próprio relacionamento amoroso (e da vida de uma criança em coma). O cineasta insiste, sobretudo, na tese de que a violência não acaba durante a festa trágica. Carregando seus fardos, pai e filho seguem cometendo infrações, agressões e humilhações para perpetuarem suas versões da história. 

Mente-se para encobrir a mentira, e retalia-se contra aquele que venha a descobrir a verdade — um colega de turma, no caso do menino, e um amigo próximo, para Sándor. Devido à tensão crescente, o filho agride um amigo na escola; e o pai atropela um ciclista. O discurso acredita num dispositivo de crime e castigo: por mais que tentem esconder a verdade, os homens desta história precisarão sofrer alguma punição, cedo ou tarde, pelo grave crime que cometeram. 

Enquanto permanece no domínio psicológico, explorando o sofrimento psíquico dos dois protagonistas, Growing Down atinge seus melhores momentos. Os cuidados de Sándor com Klára soam genuínos, embora oculte dela a verdade. Compreende-se a ira de todos os envolvidos, e também os motivos pelos quais agiriam irracionalmente após o ocorrido. O dispositivo evita julgamentos morais, algo que vale em paralelo para os atores, contendo ao máximo as suas emoções. Teria sido muito mais fácil, e menos verossímil, estimulá-los a gritarem e chorarem com frequência. É muito mais angustiante, em contrapartida, ver pai, filho e namorada fingindo normalidade diante da situação.

No entanto, na segunda metade, o longa-metragem adota caminhos convencionais, e menos instigantes. Até então, era evidente que o único foco de interesse residia nos pensamentos e emoções de um e de outro. Ora, a perspectiva se torna cada vez mais exteriorizada quando a polícia entra em cena, procurando provas, organizando depoimentos. De repente, volta-se à estratégia de defesa, aos objetos ocultos, às possíveis contradições no discurso. “Eles serão descobertos?”, parece ser o centro de atenção ao espectador rumo à conclusão.

Pior ainda, Growing Down investe numa tese problemática da imagem enquanto prova do real, oferecendo milagrosamente uma maneira de avaliar, em ângulo impecável e proximidade exemplar, uma gravação do crime. O filme dedicado à complexidade do real acredita numa arbitragem objetiva e imparcial via gravação, sem qualquer questionamento a respeito do ponto de vista que mesmo uma câmera de segurança pode ter (em relação à luminosidade do local, do ângulo escolhido, etc.).

Bálint Dániel Sós ainda revela o destino da vítima em coma e promove reencontros, anos depois. Assim, retira qualquer ambiguidade ou sugestão que vinha trabalhando com tanto cuidado até então. O cineasta parece desconfiar de seu próprio dispositivo, como se fosse legítimo investir nas dúvidas e sugestões, com a condição de revelar exatamente o que aconteceu no final, para que o espectador saia sem qualquer questionamento da sessão. 

Inicialmente, interessava a crença, o preconceito, o trauma. Depois, estes aspectos são soterrados por uma versão utópica e legalista da verdade enquanto elemento indisputável. Esta escolha não retira totalmente os méritos de um filme cuidadoso no desenvolvimento de personagens, porém atenua a força de uma obra apenas parcialmente confiante em seus mecanismos de comunicação. Depois disso, acredita na necessidade de prestar contas ao espectador médio, e retirar as máscaras de seus personagens. Ironicamente, o maior interesse residia nas máscaras.

Growing Down (2025)
6
Nota 6/10

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