Cerca de um ano após a retomada das atividades na Cinemateca Brasileira, a Sociedade Amigos da Cinemateca, atual gestora da entidade, anunciou um pacote de medidas destinadas a modernizar, preservar e popularizar o acervo cinematográfico. Diversos nomes da imprensa, da indústria e da realização audiovisual foram convidados à sede na Vila Mariana, em São Paulo, para descobrir as ações envolvidas no projeto inédita Viva Cinemateca.
Ironicamente, a retomada do interesse público pela instituição cresceu após a tragédia recente, lembra a diretora Maria Dora Mourão: “Foi o incêndio que fez a Cinemateca ficar conhecida”, pontuou. Ela precisa que a crise na gestão deste patrimônio se estendia desde 2013, muito antes do incêndio provocado por negligência do governo anterior. Agora, finalmente, uma série de investimentos obtidos via renúncia fiscal, em parceria com instituições como Itaú Cultural, Vale e Shell, permitem garantir a segurança dos filmes e o trabalho intenso de preservação, restauração e divulgação dos filmes.
As iniciativas partem da constatação de que “a Cinemateca ainda não é conhecida nacionalmente”, de acordo com Mourão. Por isso, a mostra A Cinemateca É Brasileira levará, em parceria com centros culturais de diversos estados, alguns filmes representativos da memória nacional (O Auto da Compadecida, Central do Brasil, Cidade de Deus, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Bacurau, etc.) para voltar a estreitar laços entre o público brasileiro com a produção realizada no país.
Em paralelo, será realizada a conservação de três mil rolos de película, o que inclui a recuperação, catalogação e digitalização do acervo. “Não adianta restaurar sem difundir”, explica a diretora, ao que a diretora técnica, Gabriela Sousa de Queiroz, completa: “Vamos devolver a Cinemateca à sociedade”. Isso inclui a restauração do próprio edifício tombado, onde estão previstas atividades culturais para atrair o público — caso de uma exposição, na qual serão disponibilizados documentos, maquinários e objetos pertencentes ao acervo.
Desde a reabertura, a sede já atraiu mais de 125 mil visitantes, segundo dados da própria Cinemateca, sendo 70 mil pessoas apenas em 2023. O espaço na Cinemateca tem sido privilegiado para encontros de mercado audiovisual, festivais de cinema, pré-estreias e eventos que contribuem a popularizar a sede enquanto espaço central da cinefilia paulistana.
Após a apresentação do Viva Cinemateca, o público prestigiou cerca de dez curtas-metragens restaurados, incluindo o título mais antigo do catálogo da Cinemateca: um documentário de 1909, filmado no Rio Grande do Sul, com os membros de uma feira local. Os demais títulos, das décadas seguintes, representaram a variedade disponível, entre ficções, documentários e reportagens; amadores ou profissionais; em melhor ou pior estado de conservação original e renome na história do cinema brasileiro.
Acolhe-se com alívio esta iniciativa tão ampla de formação, difusão e promoção do cinema brasileiro. Basta pensar que, pouco mais de um ano atrás, a Cinemateca ainda estava trancada, com as chaves apreendidas mediante força policial, devido ao revanchismo de uma gestão conservadora. Novos ventos chegaram.