No audiovisual brasileiro, os artistas e curadores negros ainda lutam para encontrar uma representatividade à altura da população nacional. A maioria esmagadora de festivais e mostras é comandada por profissionais brancos, cujas visões de mundo e experiências refletem diretamente nos filmes selecionados. No entanto, o pesquisador Heitor Augusto tem seu trabalho reconhecido por um importante festival internacional dedicado aos cinemas da diáspora africana: o BlackStar Film Festival, nos Estados Unidos, que começa no mês de agosto.
O evento se encontra em sua 11ª edição, apresentando 76 filmes de 27 países, com foco nas produções a respeito de comunidades não-brancas. O Brasil é representado por longas-metragens como Marte Um, de Gabriel Martins, que aborda os perigos da extrema-direita no país; e curtas-metragens como Manhã de Domingo, de Bruno Ribeiro, premiado no Festival de Berlim. Este último apresenta a viagem íntima na vida de uma pianista negra, sofrendo com a perda recente da mãe.
Heitor Augusto é o primeiro curador e programador brasileiro do BlackStar Film Festival. Ele tem uma carreira consolidada na pesquisa acadêmica e nos festivais internacionais, tendo assinado a curadoria do Festival de Brasília e das Mostras América Negra: Conversas entre as Negritudes Latino-americanas e Insurreição!, ambas em 2021. Ele é um dos fundadores do NICHO 54, instituto que tem por objetivo “promover um ambiente de igualdade racial, com atenção especial à interseccionalidade — gênero, classe e orientação sexual”.
Em comunicado à imprensa, comenta: “Contribuir com a construção da curadoria do BlackStar foi uma experiência genuína de partilha e um real intercâmbio de experiências. O trânsito de perspectivas me alegra: um profissional do Sul Global trabalhando para um evento do Norte Global que, por sua vez, está comprometido com narrativas racializadas de todo o mundo”.