Buddy (Luke Benward) está sedento por sexo. A esposa deu à luz faz seis meses, e desde então, se recusa a retomar as atividades sexuais com o jovem carpinteiro: “Não me sinto sexy”, ela alega, desculpando-se cara de choro. Fancy (KaDee Strickland) também está carente de contato íntimo. O marido Walter (Nicolas Cage), um militar aposentado, passa os dias cochilando na poltrona da sala, manifestando interesse nulo em levá-la para a cama. O filme decide, então, promover o encontro entre Buddy e Fancy.
A aproximação poderia ser progressiva, repleta de dúvidas, inseguranças, conflitos morais. Cineastas interessados no erotismo, como Adrian Lyne e Paul Verhoeven, se deliciariam com esta premissa. No entanto, o diretor Stephen S. Campanelli possui a sutileza… de um diretor pornô, justamente. “Qual foi a última vez que você teve o seu pau chupado?” e “Dá para ver que você quer comer a minha esposa” são alguns dos diálogos escritos pelos roteiristas novatos Iver William Jallah e Rich Ronat. Esse é o nível.
Uma possibilidade à produção seria assumir o desejo de representar o sexo, de modo despreocupado e despudorado. O cinema já ofereceu inúmeras pérolas focadas no desejo, incluindo sexo explícito sem converter o resultado numa obra pornográfica (o que também não seria um problema, diga-se de passagem). Em contrapartida, este pequeno filme obcecado pelo triângulo amoroso central constrói te(n)são em cada cena, mas jamais permite a concretização do gozo.
Quando Buddy é contratado para consertar a cerca do casal mais velho, ele chega com uma roupa colada ao corpo, e a mecha de cabelo caindo no rosto, enquanto Fancy vem oferecer uma bebida,de maneira sedutora. A mulher desliza as mãos lascivamente por qualquer objeto, maquia-se exageradamente, veste uma camisola de franjas e saltos altos dentro de casa. A fala dela está carregada de malícia em cada palavra, enquanto o pobre garoto se vê preso nas garras da mulher experiente. O marceneiro corta o dedo no martelo, porque olhava a bunda da anfitriã, e depois esta lambe o dedo sangrento dele para sarar logo.
A Ilha possui todos os atributos do pornô caseiro, com exceção do sexo. Ele flerta igualmente com a paródia, sem ter a coragem de ir a fundo neste caminho.
A Ilha possui todos os atributos do pornô caseiro, com exceção do sexo. Ele flerta igualmente com a paródia, sem ter a coragem de ir a fundo neste caminho que se apresentava de maneira tão natural. Ora, diretor, equipe e atores acreditam estar trabalhando numa obra séria e sombria a respeito de desejos e perversões, estando ambos interconectados. Aliás, é justamente por serem tão sexualizados que estes personagens se veem propensos à criminalidade, numa associação bastante conservadora.
O roteiro está recheado de ações e motivações absurdas, até mesmo para um filme B assumido. O jovem passa inúmeras cenas consertando a cerca, cujo reparo nunca evolui de fato. A mulher sedutora comprova sua periculosidade ao assediar (sexualmente?) criancinhas que pedem doces à sua porta. Incapaz de encontrar os patrões que se escondem na própria casa, Buddy decide cochilar no sofá alheio. De maneira súbita, a televisão se liga pela primeira vez, alertando sobre o sequestro de jovens na região — claro, para informar o espectador de algo que os roteiristas não conseguiram fazer de outra maneira.
Outros dilemas envolvendo remédios, trancas na porta, sonos pesadíssimos do marido e uma braguilha aberta com a ponta do salto alto poderiam despertar risos, caso o diretor abrisse a porta ao olhar autodepreciativo. O rapaz tem a camiseta empapada de suor, mas quando se vira, a roupa está seca, e depois empapada na cena seguinte. A maquiagem de machucados e ferimentos muda de maneira brusca entre cenas. Há um furacão lá fora, mas não existem sons da natureza durante o evento destruidor.
Em outras palavras, apesar da seriedade do tom, o comprometimento de cada artista atrás das câmeras constitui o mínimo necessário para o longa-metragem ser viabilizado. Num porão, o trabalho de luzes é insuficiente, e na delegacia, uma luz leitosa invade o local de modo despropositado. Os figurinos, objetos e cenários buscam uma representação caricatural do sul dos Estados Unidos, repleto de pessoas brutas, ignorantes, cafonas, suadas e libidinosas. O texto se volta às esposas submissas, os delegados profundamente religiosos, os maridos fascinados por armas. Caso subvertesse esse panorama, Campanelli poderia oferecer um filme crítico às convenções de comunidades interioranas.
Entretanto, para um longa intitulado A Ilha, ou Grand Isle no original, a geografia da região possui importância nula, visto que as interações privilegiam os cenários teatrais da sala de interrogatório e da parte interna da casa. A passagem de tempo possui problemas (as horas durante a tormenta), enquanto o espaço da casa nunca se detalha (o que seria essencial, em virtude dos segredos ocultos no local). A certa altura da tempestade, o rapaz simplesmente diz: “Bom, acho que vou voltar para casa mesmo assim”. Então o retorno é possível, em plena passagem do furacão? Por que ele não tinha saído antes?
Questionar a presença de um ator conhecido como Nicolas Cage neste trabalho implicaria na necessidade de indagar a participação do mesmo em sete projetos nos últimos anos, muitos deles de caráter duvidoso. Aqui, o aspecto kitsch e amador da mise en scène permite ao ator disparar seus tiques e exageros sem qualquer controle da direção, enquanto os colegas de cena comprovam a limitação dos recursos dramáticos. Cage nem sequer protagoniza o projeto, sendo preterido por Luke Benward e KaDee Strickland em parte considerável da narrativa.
A intromissão do gênero de suspense não-erótico na reta final, por meio da figura de sequestradores, e a chegada repentina das regras do cinema policial apenas chamam a atenção para a letargia que se desenvolvia até então. Nenhum destes componentes entra de maneira orgânica na jornada de Buddy, servindo de mera armadilha para resgatar a atenção do público. O uso de situações artificiais e improváveis, como vindas de filmes diferentes, comprova o desespero dos criadores para oferecer algum momento de interesse real rumo à conclusão.
Infelizmente, a receita não funciona. Resta um filme de sexo sem sexo, um filme policial que evita a investigação (pobre Kelsey Grammer, preso a uma mesa e forçando o sotaque caipira), um filme-catástrofe, com a passagem de um furacão perigoso, que evita o desgaste dos cenários. Nenhum personagem possui motivações verossímeis, nem um modus operandi naturalista. Por isso, é difícil se identificar com qualquer um deles, ou torcer pela sobrevivência durante a noite perigosa. Afinal, os equívocos de roteiro, fotografia, montagem, som, direção de arte e continuidade gritam muito mais alto do que qualquer tensão ali dentro.