Mostra Tiradentes 2023: O cinema humanista de Solange encerra a Mostra Aurora

Na sexta-feira, 27 de janeiro, a 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes apresentou ao público e à imprensa seus dois últimos longas-metragens em competição. Solange, de Nathália Tereza e Tomás Osten, e A Vida São Dois Dias, de Leonardo Mouramateus, trouxeram obras mais leves ao evento — o que não significa menos complexas, ou rigorosas em sua produção.

Aliás, a maior semelhança entre estes dois “filmes de personagens”, realizados em formato de tela próximo ao quadrado, se encontra na capacidade de experimentar dentro de um dispositivo acessível ao público médio. Trata-se de qualidades muito importantes ao cinema nacional.

Solange

Solange, em especial, impressionou pelo poder de concisão. Os cineastas se concentram na vida desta mulher, interpretada por Cássia Damasceno, que retorna à cidade de origem para buscar objetos deixados na casa de amigos. No caminho, reencontra os problemas dos quais fugiu ao se mudar. O filme é simples, curto (60 minutos), focado em poucos personagens, espaços e conflitos. Ele cumpre bem o seu propósito, amparado na atuação excelente da atriz principal.

Talvez seja a produção mais polida da Mostra Aurora este ano, no sentido de profissional, coesa e coerente. Resta saber se estas são as qualidades buscadas pelos jurados, em oposição à radicalidade ou abertura à experimentação, por exemplo. Leia a crítica.

A Vida São Dois Dias, de Leonardo Mouramateus

A Vida São Dois Dias, de Leonardo Mouramateus, retoma o estilo e as temáticas prediletas do cineasta. Entre Portugal e Brasil, trabalhando novamente com Mauro Soares, ele imagina a história de dois irmãos gêmeos, que perderam contato, mas serão reunidos por um livro maldito. O quiproquó literário interessa pouco ao autor, no entanto, que demonstra maior prazer em filmar cenas cotidianas e pequenos instantes de humor sutil.

O filme possui ritmo agradável, e combina de maneira orgânica o humor e o drama — a exemplo de Solange. No entanto, pareceu previsível para quem já conhece a maneira de filmar do cineasta. Leia a crítica.

Alegorias

O dia também apresentou a última obra da Mostra Olhos Livres. Alegorias, de Leonel Costa, gira em torno de duas jovens negras, que trabalham como empregadas domésticas para um empresário branco. Apesar dos insultos e humilhações diárias, elas sonham com uma vida melhor, representada pela paixão do samba e do Carnaval.

Devido à chuva intensa em Tiradentes, que alagou as ruas ao redor do cinema, a sessão esteve um pouco esvaziada, porém foi marcada pelos aplausos calorosos do público presente, que se identificou com a história de conquistas e revanches simbólicas contra a classe dominante.

A noite de sábado, 28 de janeiro, marca o fim da 26ª edição. Durante a cerimônia de encerramento, serão conhecidos os vencedores de 2023. O público também assistirá aos dois últimos longas-metragens deste ano, apresentados fora de competição: Amazônia, a Nova Minamata?, de Jorge Bodanzky, e Propriedade, de Daniel Bandeira.

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