O domingo, dia 5 de junho, trouxe dois potentes dramas femininos no 11º Olhar de Cinema: Festival Internacional de Cinema. O principal deles foi A Censora (2021), produção eslovaca-tcheca-ucraniana de Peter Kerekes. O diretor investiga as histórias reais de dezenas de mulheres grávidas ou com filhos recém-nascidos, encarceradas na prisão de Odessa.
O cineasta faz o possível para se colar ao real, apresentando partos verdadeiros, atrizes realmente grávidas e dezenas de bebês chorando sozinhos em maternidades carcerárias. Esta preocupação se cola com uma estética glacial, que evita qualquer sentimentalismo e se foca nos planos fixos, distantes. O resultado é um belo olhar humanista, que evita tanto desculpar as personagens pelos crimes cometidos, quanto criticá-las pelo passado. Leia a nossa crítica.
Na Mostra Novos Olhares, Grace Tomada Única (2021) reconstrói a vida da co-roteirista Mothiba Grace Bapela, atriz e faxineira sul-africana. Ela fugiu de casa na infância, foi estuprada e escravizada pelos patrões, além de ter encontrado uma cabeça humana na casa onde trabalhava. Ela combate a miséria para criar cinco filhos, dentre os quais, dois morrem ainda pequenos. Bapela veio ao Brasil especialmente para o festival, e repetiu que sua intenção, através do filme, era despertar nos espectadores a crença superação de obstáculos.
Apesar da personagem feminina forte, e da reconstituição corajosa de traumas reais, o docudrama possui uma estrutura fragmentada demais, além de um cuidado insuficiente com a construção das imagens e sons. Leia a nossa crítica.
No entanto, o ponto fora da curva do 11º Olhar de Cinema, até o momento, se encontrou na seleção da comédia É Preciso uma Aldeia (2022) para a mostra competitiva. A fábula singela, dirigida por Adam Rybanský, retrata a xenofobia e o racismo crescentes num vilarejo, após um acidente envolvendo um furgão desgovernado. Os bombeiros da região exploram o caso para estimular a raiva contra árabes, embora nenhum árabe estivesse envolvido no caso.
As intenções são óbvias, assim como as simbologias e a construção imagética. O filme sofre com uma montagem frouxa que atenua o humor, além de discutir a representação das minorias sem demonstrar interesse pelos alvos deste preconceito. Trata-se, com alguma folga, do filme mais fraco selecionado em competição até agora. Leia a nossa crítica.
A segunda-feira, dia 6 de junho, traz a reprise de dois filmes da mostra competitiva: A Censora e o brasileiro Paterno. Outros destaques são a exibição de Babi Yar. Contexto (2021), de Sergei Loznitsa, que retrata o massacre de judeus na Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial, e o magnífico Geografias da Solidão (2022), documentário experimental de Jacquelyn Mills, vencedor de três prêmios no Festival de Berlim.