Na última terça-feira, 7 de junho, foram apresentados os últimos filmes da mostra competitiva do 11º Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba. Espectadores, críticos e jurados assistiram aos títulos restantes, em especial o franco-indiano Uma Noite sem Saber Nada (2021), dirigido por Payal Kapadia, e selecionado na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.
O projeto une cartas fictícias trocadas entre uma estudante e seu amante, com as manifestações reais que tomaram conta das universidades na Índia. Enquanto L., a protagonista, sonha em concretizar seu romance, as tropas violentas do presidente conservador entram em diversos institutos e espancam estudantes grevistas, deixando dezenas de pessoas gravemente feridas.
Apesar do tom de urgência e do posicionamento firme da direção, o projeto sofre com uma condução lânguida, ditada pela narrativa sussurrada de Bhumisuta Das. Além disso, pelo menos dois terços das imagens são incrivelmente escuras e sem relevo, forçando o espectador a distinguir alguma forma humana entre os poucos vultos que transitam pelas sombras. Leia a nossa crítica.
Encerradas as projeções, alguns favoritos se desenham para a cerimônia de premiação, que ocorre na noite de 8 de junho. Filme Particular e Freda foram dois dos projetos mais apreciados, e devem levar prêmios importantes nesta edição. Paterno foi aclamado, embora represente uma proposta clássico-narrativa atípica para o Olhar de Cinema. Recompensá-lo poderia significar uma decisão do júri em valorizar precisamente a estrutura mais convencional numa programação rica em experiências de linguagem. Não será uma surpresa se os belos Alan e O Trio em Mi Bemol também forem recompensados.
Na noite de terça-feira foi exibido pela primeira vez Céu Aberto (2022), documentário que acompanha seis anos na vida de uma adolescente gaúcha. Apesar do tom de cumplicidade, surpreende a decisão da diretora Elisa Pessoa de evitar toda intimidade, além das dúvidas e angústias da protagonista. Ela é limitada a deslocamentos entre cidades e grandes guinadas na vida, porém sua psicologia permanece inacessível ao espectador.
Para os espectadores interessados em curtas-metragens, a mostra competitiva revelou metade dos títulos selecionados numa projeção conjunta. No entanto, os títulos XAR – Sueños de Obsidiana, Constante, Invisíveis e Holocausto Sagrado consistiam, de modo geral, em grandes temas abordados de maneira solene e hermética. Neste caso, parece que a grandiosidade do gesto importa mais do que sua execução e o diálogo com o público. O recorte curatorial soou estranhamente deslocado daquele aplicado aos longas-metragens, que se mostram, em 2022, particularmente fortes.