No segundo dia da mostra competitiva de longas-metragens, o 11º Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba trouxe um inesperado filme brasileiro a respeito do apartheid na África do Sul. Ainda mais surpreendente foi o tom do projeto: Filme Particular (2022) é muito divertido, tendo despertado gargalhadas na plateia.
A diretora Janaína Nagata adquiriu, sem querer, uma gravação pessoal em 16mm ao comprar um carretel de película pela Internet. As imagens correspondem à viagem de um empresário britânico a Durban, na África do Sul na década de 1950, colhendo os privilégios do apartheid em passeios luxuosos a um balneário e a um safári. Após intensas buscas na Internet, ela começa a descobrir os locais, anos e identidades das pessoas retratadas, até se deparar com o rosto de Hendrik Frensch Verwoerd, considerado o arquiteto do apartheid. Assim, a cineasta se vê na responsabilidade de opor o registro racista do político às imagens disponibilizadas nas redes décadas mais tarde.
O resultado surpreende por se basear unicamente em pesquisas pessoais, através de telas divididas, para expor e rejeitar o pensamento segregacionista. A voz robótica do Google, utilizada para ler os textos históricos encontrados, provocou um tom cômico de distanciamento, que encontrou bom eco com os espectadores na sala. Leia a nossa crítica.
O dia 3 de junho também contou com exibições dos dois longas-metragens selecionados para a Mostra Mirada Paranaense: Upa, Neguinho! (2022), de Douglas Carvalho dos Santos, e Pasajeras (2022), de Fran Rebelatto. O primeiro segue a trajetória do artista e ativista Kunta Leonardo da Cruz, um dançarino quilombola e LGBTQIA+. O rapaz expõe suas pesquisas acadêmicas e de corpo, num registro tão singelo quanto honesto dos criadores. Leia a nossa crítica.
Já Pasajeras acompanha a rotina de mulheres que atravessam mercadorias na fronteira entre Brasil e Paraguai, com um detalhe: nunca acompanhamos de fato qualquer uma dessas travessias. As personagens se limitam a comentar a atividade em voz indireta. Infelizmente, a ausência de questionamento político e econômico faz falta no projeto bem-intencionado. Leia a nossa crítica.
O sábado, dia 4 de junho, traz dois novos filmes da mostra competitiva: o franco-indiano Uma Noite sem Saber Nada e o brasileiro Alan. A partir de 7 de junho, as produções estarão disponíveis online em todo o país.