Plano aéreo de uma grande chácara. Jovens atraentes chegam ao local; desfazem as malas. Novo plano aéreo para valorizar piscina, lago, gramado. Um casal jovem chega ao lugar. Trocam cumprimentos, falam em festas, em churrasco, em Ano Novo. A primeira configuração com a qual No Outro Encontro Você se comunica é o filme de férias, leve e descontraído, que consiste em levar gente bonita para lugares bonitos e vê-los aproveitarem um descanso luxuoso ao qual poucos espectadores teriam acesso. Em outras palavras, o prenúncio de um filme idealizado.
A impressão se dissipa à medida que a trama avança, e começa a buscar um tom. Ora aparenta mirar no drama cotidiano, de pequenas interações naturalistas entre amigos. Ora insiste numa trilha sonora de suspense, indicando algum acontecimento trágico para o quarteto. Em outros instantes, prefere a aparência da comédia, mesmo romântica. O longa-metragem jamais define ao certo qual estilo e linguagem pretende adotar, ou qual discurso deseja veicular a partir do fim de semana de isolamento privilegiado.
A indefinição é acentuada por algumas escolhas de direção. O projeto aposta em cenas curtíssimas e objetivas, cada uma marcada por um objetivo dramático preciso. O personagem entra no enquadramento, desempenha sua função e a imagem se interrompe. Isso ocorre com as sequências do jogo de pôquer online, da tentativa frustrada de sexo, da ligação conflituosa com o pai, e assim por diante. Não existe antes, nem depois: o roteiro trabalha na chave pragmática de uma cena, uma função, e passa adiante. Poucos dilemas possuem peso ou deixam marcas duradouras na trama.
Isso se deve ao fato que a quase integralidade dos obstáculos provêm de fora da diegese, ou seja, antes de a história de fato começar. Ao invés de criar impasses durante a convivência do quarteto, o texto imagina que todos vieram repletos de problemas anteriores: a crise financeira de um, o descontentamento sexual de outra, a depressão de uma terceira, e assim por diante. Nada relevante ocorre de fato durante a jornada, pois já havia surgido nos anos e meses precedentes. Assim, cabe aos atores verbalizarem e explicarem aos espectadores, via diálogos, todos os seus desejos e impedimentos ausentes em imagens.
No Outro Encontro Você desperta a curiosa impressão de um drama interessado em conceber disputas, mas não em desenvolvê-las.
Mesmo estes conflitos são resolvidos com uma facilidade inesperada, ou somente esquecidos pela curta trama. A grande festa preparada por Marcelo (Bruno Autran) some dos planos do rapaz, que a substitui por novos planos imediatos. O roubo de garrafas de vodca se resolve com uma rapidez instantânea, também sem implicar em efeitos a longo prazo. Uma briga exagerada, novelesca dos quatro à mesa (correspondente ao clímax), não porta quase nenhuma consequência no dia seguinte, quando todos acordam felizes, e uma obra de arte aparece por geração espontânea, sem processo nem esforço.
No Outro Encontro Você desperta a curiosa impressão de um drama interessado em conceber disputas, mas não em desenvolvê-las. E se Rodrigo (Geraldo Rodrigues) tivesse uma paixão secreta por jogos online? E se Michele (Julia Ianina) tivesse um amante? Todas as ideias portam interesse em si, até serem expostas e devidamente ignoradas pelo texto no instante seguinte. As interações soam tão fortuitas que mesmo os dois irmãos, Marcelo e Bia (Carol Tilkian) soam como namorados dormindo numa única cama, posto que há pouca construção de uma intimidade familiar.
Os demais elementos técnicos e artísticos favorecem a impressão de uma obra impessoal: o churrasco previsto para dezenas de pessoas se converte em poucos pedaços de carne queimada (o que houve com o resto da comida, que desaparece a seguir?); a arrumação dos objetos para a venda da casa nunca ocorre de fato; o empresário que trabalha colado à Internet utiliza uma marca improvável de computador para um profissional. As únicas três visitas aos protagonistas chegam por acaso, sem avisar, por pessoas que partem com igual espontaneidade. Assim, a narrativa multiplica as atividades, sem gerar tensão nem criar uma atmosfera precisa.
A trilha sonora contribui a este efeito. Há interrupções curtíssimas de temas musicais, com poucos segundos de duração, a exemplo dos três episódios de corrida de Marcelo ao som de pop rock. A montagem associa interações tensas ou dramáticas a instantes descontraídos, anulando os efeitos de um e de outro. Em sua curta duração, o longa-metragem parece buscar a seus propósitos e estilos. O quarteto de atores se presta ao jogo com gosto (é um prazer observar a destreza de Julia Ianina com diálogos, ou a fragilidade no olhar de Geraldo Rodrigues), mas são prejudicados por personagens que se desenvolvem pouco ao longo da jornada.
Resta uma obra agradável de ver, sem tempos mortos, beneficiada por alguns diálogos naturalistas e provocações que, de fato, soam apropriadas para um grupo de amigos reunidos. Ao espectador, fica a imaginação do que ocorreria caso algumas dessas cenas fossem estendidas para alguns minutos a mais, permitindo estranhezas, ambiguidades, sugestões e o almejado erotismo que o filme nunca alcança. Com um pouco de amadurecimento do texto (o roteiro certamente precisaria de alguns tratamentos a mais) e das escolhas de direção, a mesma premissa poderia atingir um resultado mais potente.
