“Desejo que a Mostra de Tiradentes tenha uma programação anual e contínua”, explica a coordenadora geral Raquel Hallak

O ano de 2023 já abrigou um dos eventos cinematográficos mais importantes do calendário brasileiro: a Mostra de Tiradentes, voltada à produção de novos realizadores, ao cinema autoral e aos debates entre criadores, produtores e demais profissionais do audiovisual.

Além da exibição de mais de 100 filmes, a 26ª edição trouxe o Fórum de Tiradentes, quando especialistas em diversas áreas do audiovisual (produção, formação, distribuição, exibição, preservação) promoveram encontros e discussões. Após dias de debates, criaram a Carta de Tiradentes, detalhando 17 propostas de gestão pública e Estatal para serem implementadas pelo novo governo Lula, pela Ancine, pelos Estados e municípios. Assim, esperam reverter as paralisações e ataques contra a cultura praticados pela gestão Jair Bolsonaro.

Raquel Hallak durante a 26ª Mostra de Tiradentes. Foto Leo Lara / Universo Produção

O Meio Amargo conversou com Raquel Hallak, coordenadora geral da Mostra de Tiradentes, e figura central à frente de dois outros eventos cinematográficos em Minas Gerais: o CineOP, em Ouro Preto, e a Mostra CineBH, em Belo Horizonte. Questionada se a Carta seria o evento mais marcante desta edição, ela prefere contextualizar as circunstâncias que permitiram seu desenvolvimento:

“Este é um documento que completa todo o propósito do evento. A carta está em total sintonia com a nossa temática, o Cinema Mutirão. Ela foi um reflexo dos desejos, dos anseios do setor audiovisual. Durante esta edição da Mostra, tivemos uma vivência do setor audiovisual, então são atitudes complementares”.

Tiradentes teria interesse, entre outros, em vistoriar quais propostas foram implementadas, e compreender quais ainda precisam melhorar, a partir de 2024? “Acho que este é apenas um ponto de partida”, explica Hallak. “Precisamos não apenas entregar a carta oficialmente ao Ministério da Cultura, mas também para todos os ministérios relacionados, como Comunicação, Educação, e mesmo com a Ancine. A secretária [do Audiovisual, Joelma Gonzaga] participou de todos os Grupos de Trabalho, então houve um momento de escuta nesta reconstrução da Secretaria do Audiovisual. Este documento vai ser uma base fundamental, porque ele já representa um bom caminho andado”.

“A ideia é não apenas fazer um acompanhamento, mas que, no decorrer, de 2023, através de nossas duas outras mostras, o CineOP e a Mostra CineBH, a gente possa criar momentos para discutir tudo o que trouxemos aqui, e aprofundar”, ela prossegue. “No caso de Ouro Preto, trazendo a educação, que já faz parte do evento, e trazendo o foco da Secretaria para o setor audiovisual. O Ministério inclusive cria uma Secretaria do Patrimônio. Depois, a gente vai falar de mercado. Ainda temos um ano para trabalhar até que venha um segundo Fórum para a gente discutir o que deu certo, e o que ainda precisa melhorar. Será um momento de reavaliação. A Mostra de Tiradentes tem o perfil de reunir todos estes profissionais. Temos a exibição de filmes de 19 Estados. O fato de ser no começo do ano dá um aspecto de balanço do que foi, e de como pode vir a ser”.

Raquel Hallak com demais organizadores do Fórum de Tiradentes. Foto Leo Lara / Universo Produção

Além de disponibilizar filmes e debates a cinéfilos, pesquisadores e membros da imprensa, a coordenadora geral ressalta a importância de manter a Mostra de Tiradentes em formato híbrido, ou seja, com exibições presenciais em paralelo a sessões online:

“Meu desejo é que Tiradentes tenha uma programação anual e contínua”, afirma. “O alcance do online é muito bom para o cinema brasileiro. No CineBH, já detalhamos que não tem salas para exibição, não tem cota de tela, e todas as outras dificuldades do cinema brasileiro em chegar ao público. Por isso, ter uma plataforma a serviço do cinema brasileiro, com uma seleção pensada por uma equipe curatorial, e abrir este sinal para o mundo, dentro deste contexto, seria fundamental. Na primeira edição, foram mais de 550 mil acessos online. Isso foi uma conquista que não podemos perder. O público que não pode vir até aqui ainda pode ter acesso aos filmes, e também aos debates, pegando o espírito conceitual dessa edição”.

O Meio Amargo pergunta então se esta expansão poderia ocorrer inclusive no formato presencial, em novas cidades. Afinal, a Mostra de Tiradentes possui há onze anos uma itinerância na cidade de São Paulo. No entanto, Hallak pondera:

“Aí depende de interesses. A ideia de São Paulo vem do fato que percebemos uma lacuna para o cinema brasileiro lá. Vamos completar onze anos com a itinerância. A Mostra de São Paulo é muito focada no cinema cosmopolita, internacional. Os jornalistas nos diziam muito: ‘Não posso ir até Tiradentes, como faço para ter acesso aos filmes?’. A gente queria estar em cidades-polo, especialmente Rio e São Paulo, que não tinham uma canalização para o cinema brasileiro. Mas nosso próximo projeto é de plataforma: queremos estar em todos os lugares”.

Representantes da Carta de Tiradentes durante a apresentação do documento. Foto Leo Lara / Universo Produção

No que diz respeito à diversidade e ao alcance, Tiradentes mantém a tradição de exibir filmes ousados, radicais e provocadores, em especial dentro das mostras internas, enquanto reserva filmes mais acessíveis e populares nas sessões ao ar livre, na famosa praça central de Tiradentes. Para a coordenadora, estas experiências se completam:

“Isso vem da diversidade da produção, em vários formatos e gêneros”, reflete. “A gente faz uma divisão, porque existem questões de classificação etária. Mas a programação é pensada para a gente apresentar essa diversidade, esse panorama da produção do Brasil em várias linguagens e estéticas. São pessoas que pensam o cinema diferente do convencional, para a gente continuar aberto a consumir o novo. Quem está fazendo filmes, agora? De onde eles vêm? O debate se complementa muito. Mas, antes mesmo de pensar nos espaços, pensamos muito no recorte de mostras. Tiradentes é muito conhecida pela Mostra Aurora, Mostra Olhos Livres, Mostra Panorama, todas elas conceituadas. A reunião desses filmes representa a pluralidade da nossa produção”, ela conclui.

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