Mostra de Tiradentes 2023: A caixa de lembranças de Paula Gaitán e o cinema queer de Rafael Saar

Na última quinta-feira, 26 de janeiro, a 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes apresentou dois longas-metragens da Mostra competitiva Aurora no mesmo dia, pela primeira vez nesta edição. Foram apresentados dois projetos radicalmente diferentes: a comédia Cervejas no Escuro e o documentário Peixe Abissal. Fora desta seção, as atenções se voltavam à exibição de O Canto das Amapolas, novo filme da diretora Paula Gaitán, uma presença frequente no evento mineiro.

Ela não decepcionou com o novo projeto, gestionado durante um laboratório em Berlim. A cineasta se coloca em cena, discutindo com a própria mãe a respeito das origens da avó europeia. Elas conversam sobre religião, casamento, línguas e deslocamentos geográficos, expondo as diferenças de percepção entre gerações. Enquanto isso, efetua colagens do apartamento na Alemanha e de figuras femininas que possam representá-las no início da juventude. Leia a crítica.

O Canto das Amapolas, de Paula Gaitán

Talvez este seja o filme mais intimista de Paula Gaitán até agora, e também um dos mais acessíveis ao público amplo. Algumas curiosidades ocorreram durante a sessão: um problema na cópia causou uma pequena paralisação, durante a bela cena com as amapolas do título. Na tentativa de consertar, os técnicos parecem ter lugado a luz, além dos holofotes coloridos estroboscópicos. Minutos antes, o som do teste de cópia de A Filha do Palhaço tinha vazado na sessão. Diante do acolhimento gentil e preocupado dos organizadores, a cineasta não parece ter se importado. Ao público, restou a impressão de uma performance do próprio filme, que brincava em sua trama com percepções distintas entre som e imagem, e com duas trilhas sonoras exibidas simultaneamente. Um curioso cinema 3D, digamos.

Na Mostra Aurora, foi exibido o melhor filme desta competição até o momento: Peixe Abissal, de Rafael Saar. A partir da vida e obra de Luís Capucho, o cineasta efetua uma espécie de biografia imaginária, onde fatos se misturam a desejos, sonhos, delírios e performances. Estão presentes cenas dramáticas, cômicas, fantásticas e eróticas, protagonizadas pelo artista numa entrega tão sincera quanto leve.

Peixe Abissal, de Rafael Saar

Capucho discorre sobre o HIV, a descoberta da sexualidade, o apego com a mãe e suas criações, ao passo que o diretor elabora sequências criativas o bastante para dialogarem com o estilo do protagonista. Ney Matogrosso também participa do projeto numa apresentação kitsch, efetuando uma conexão fértil com a criação do protagonista. Leia a crítica.

Embora Peixe Abissal impressione pelo belo acabamento das cenas, com trabalho excepcional de fotografia e montagem, a comédia Cervejas no Escuro tenta utilizar as deficiências a seu favor. O filme do diretor Tiago A. Neves possui problemas evidentes de som, luz, montagem e direção de atores. No entanto, o cineasta explora esta configuração dentro de uma ficção metalinguística, a respeito de uma mulher em luto que sonha em transformar a história de sua vida num filme. Sem possuir conhecimentos cinematográficos, elabora cenas marcadas por equívocos de produção e realização. Leia a crítica.

Cervejas no Escuro, de Tiago A. Neves

O projeto possui bons momentos, e talvez tenha constituído a sessão mais divertida das mostras competitivas até então. No interior da Cine-Tenda, as gargalhadas eram frequentes. No entanto, ele não sustenta a lógica do filme-dentro-do-filme por muito tempo, e encontra dificuldades em inserir neste pastiche a sua homenagem bastante séria aos combatentes da Revolta de Princesa, na Paraíba.

A sexta-feira, 27 de janeiro, traz os últimos filmes em competição nas Mostras Aurora e Olhos Livres. Serão exibidos os longas-metragens Alegorias, de Leonel Costa (às 18h); A Vida São Dois Dias, de Leonardo Mouramateus (às 20h), e Solange, de Nathália Tereza e Tomás Osten (às 22h).

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